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P O E S I A
BY/POR: RICARDO VERCESI
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(Sem Título)
Não sei por que choras menina
Se tudo o que perdeste era vazio
Quando nada é mais do que tinhamos
E tudo o que resta um sorriso
Por tudo o que dissemos a dois
Não sei por que choras menina
Se tudo o que fica é o depois
E o que ficou por dizer
(Sem Título)
Saltam lágrimas do asfalto
Quando passa a senhora
Que nos leva ao altar
Do matrimónio com a morte
Assinamos os compromissos a sangue
No asfalto a borracha
Deixa-nos o odor fétido
De carne temperada a alcoól
Nesta última refeição
De egoista estupidez
O cigarro
Acende
Rasga o ar que respiro
Aquece o frio que me pertence
Ocupa-me o pensamento
Distrai-me do que quero pensar
Rouba-me o tempo de ócio
Adorna o tempo de trabalho
Aconchega o dia que finda
Adormece a alvorada do sonho
Apaga-me.
(Sem Título)
Helena, Helénica
De Tróia Nação
Por ti, Cultura
Em ti, Guerra
Helena Poetisa do meu coração
Isabel, Senhora
Rainha de poeta teu esposo
Dinis, Cultura feita
Arte, em Shakespear refeita
Por ti, Ovação
Em ti, Um palco
Isabel, Poetisa do meu coração
Madrugadas I
Distraio o sono
Com o fumo e escrevo
Exalto o corpo
No espírito em alcool
Tremo
Arranho as folhas
E lembro
Entendo
Que não é por dizer o que sinto
Que me torno cruel
Nem por falar a verdade que minto
Quando abro o coração com a ponta de uma caneta
E o exponho numa folha de papel.
Madrugadas II
Por que não durmo
Se o sono me fecha os olhos
E o cansaço me deita num leito de palavras
Mergulho num pensamento inerte
Afogo-me nas águas Vinho
Do fingimento firmamento
E sonho num livro de mágoas
Escrever o que me atormenta.
O Rio
Movimento errante este
Que me leva até ao mar
Na dúvida que em mim persiste
Que margem devo abraçar.
Desamor
Porque de amor se trata
Prefiro deixar o coração falar
E então não escrevo mais nada
Por não ter mais nada para contar.
Desejo
Abrir-te as portas do meu mundo
Para que pudesses entrar Em mim
Mostrava-te todos os cantos
Para que os pudesses amar Em mim
Trazia-te flores colhidas
Num imaginário jardim em contantes Primaveras
E dançava contigo mil valsas
Num romance de outras eras
Em mim
Encontrar-te num altar de cristal
Em mim
Adorar-te Em ti Amar-te
Entrar em Ti
Para que me mostrasses o teu mundo Corpo
Em Ti colher os frutos desse jardim
Por ti semear as vontades Exílio
Ébrio Esquecer-me em Ti.
(Sem Título)
Não serei tão lesto quanto os românticos
Para escrever um poema sem te conhecer
Mas não tenho como os românticos
O poder de me conter
(Sem Título)
Trocam-se as palavras
Por chavões e frases feitas
E logo nascem as canções...
TIMOR
De um ponto no mapa
Tão distante quanto se pode ser
Surgem rumores Desenham-se horrores
Sobre o ponto no mapa
Que poderá deixar de o ser
Ouvem-se notícias numa rádio qualquer
Vêem-se imagens de uma morte para se ver
Subitamente, passa a notícia
Irremediavelmente é de bom tom
Insurgir-se contra a polícia ou governo distante
Mas nunca deixar que se levante demasiado o véu
Pois não nos diz respeito
Não se pode fazer despeito
A um parceiro comercial, anormal
E entre tudo o que se diz
E o que não se faz
Dizemo-nos activistas
Sempre que a televisão nos traz
Mais uma morte Uma sorte
Sem nunca dar muito nas vistas.
TIMOR OU OUTRO PONTO QUALQUER NO MAPA
(Sem Título)
Destruiste-me que me auto-distituí
Deste amargo cargo pesadelo
De fatídica política sentimental
Provei-te que me provaras
Deste amor destruidor
Num suicídio genocídio emocional
Não saberei se vivo em viver
Contigo em ser fadigo
Mendigo as palavras Amarras
Que corto com facas
Afias a língua e lavras o peito
Meu Teu coração
Cortei que me cortas a voz
Em nós desenho um ponto final
Desejo prevejo o fim das ideias
Das frases a meias por ser natural
Imaturo in natura
De algo inerte que ainda perdura
E fura Trespassa Colhe
Arrasa os últimos frutos
Em ventre quantas questões
Ardes Vil cálculo
Ardis calculo febris
Por serem emoções
Destruíndo o meu nosso abrigo
Pondo fim a um amor ferido
Em si já há muito perdido
Ricardo Vercesi
Lisboa, Portugal
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