Abrem-se à vida
Fecham-se às loas
Invadidas por sol e chuva
Por elas se evadem as pessoas.
Singelas ou arrebicadas
Sem estilo guia
Ou bordejadas de cores quentes
São buracos de fantasia
Confessionários de sentimentos ausentes.
Serviram para namorar
Servem para arejar
Elementos arquitectónicos
Indispensáveis
Lugares familiares
Impenetráveis.
Parapeitos de solidão
Fábricas onde sentimentos violarão
As normas da evasão.
Do tempo foram matriz
Nelas criámos raíz
São as belas janelas do meu país!
Lisboa, 11 de Julho 1999
AO SR. FERNANDO PESSOA
(e a todos os outros...)
Sou todos
neste meu eu isolado
com que abarco o mundo
no meu interior desafinado
sou todos vós
e um apenas
com que vos dou a voz
nem eu nem tu
nem todos vós
Nós
na unidade incandescente
do meu eu transcendental
numa busca intransigente
e sobrenatural.
Lisboa, 28 de Março de 1999
POR MARES SEMPRE A NAVEGAR
Numa balsa navego
na fantasia do mar
na espuma dedilho palavras
no sal marino meus poemas
na esperança enfuno as velas
do barco que não possuo
e nele percorro
verdejantes ilhas do sul
onde piratas me segredam
o vício das aventuras
a cor do imprevisto
o som do indizível
o cheiro do desconhecido
e num "tsunami" inofensivo
aporto numa praia de areias
doiradas e finas
e no pôr-do-sol rubro
descubro o sentido do meu destino